Faculdade de Ciências

a)    Energias Renováveis

De acordo com o Atlas de Energias Renováveis de Moçambique [12], o país possui um potencial bastante alto em energias renováveis, podendo-se mencionar a solar (23.000 GW), a eólica (4,5 GW), a hídrica (18 GW), a biomássica (2 GW), a geotérmica (147 MW) e a oceânica, cuja magnitude ainda não está devidamente avaliada. Em linha com os objectivos de desenvolvimento sustentável, a matriz energética das energias renováveis deverá ser alargada. Por outro lado, é necessário privilegiar a construção de micro/mini/macro-redes alimentadas por centrais locais que explorem, de forma sustentável, os recursos energéticos localmente disponíveis, ao longo de todo o país, tendo em conta a diversidade e multiplicidade dos recursos disponíveis e amplamente distribuídos, ao nível do território nacional.

 

b)    Eficiência Energética e Captura e Armazenamento de Carbono

Tendo em conta os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o facto inegável de que a transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis aconteça num futuro próximo, é importante, para além da migração para energias renováveis, adoptar medidas de eficiência energética e desenvolver tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS)[1], como medidas de mitigação dos efeitos negativos do CO2 sobre o ambiente, reduzindo, com a eficiência, a intensidade carbónica do consumidor (mercado de energia) e, por outro, a intensidade carbónica na oferta (geração) de electricidade.

c)     Combustíveis Fósseis

O país dispõe de recursos substanciais de combustíveis fósseis, com destaque para o carvão e gás natural. Moçambique detém 100 triliões de pés cúbicos (TCF, na sigla em Inglês) de reservas comprovadas de gás natural (a maioria das quais está na Bacia do Rovuma, no extremo norte do país) e é o terceiro maior detentor de reservas comprovadas de gás natural em África, depois da Nigéria e da Argélia.

 

d)    Energia Nuclear

O uso da tecnologia nuclear para a produção de energia data dos anos 60, após a Segunda Guerra Mundial [14]. A tecnologia sofreu um revés em 1986, com o incidente de Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente, com os acidentes derivados dos terramotos de Fukushima, no Japão, em 2011. Apesar destes factos, continua a constituir-se em alternativa, face aos reconhecidos problemas das emissões dos combustíveis fósseis. A sua contribuição actual na matriz global de produção de energia global é de cerca de 5%. O maior desafio desta tecnologia é o controlo da radioactividade, quer durante a produção de energia, como durante o transporte e acondicionamento dos resíduos radioactivos de longo período de vida que produz. Admitindo que o país pode, um dia, identificar recursos minerais precursores de metais pesados (radioactivos/fósseis), é importante desenvolver alguma investigação (ainda que residual), de forma a manter o país informado sobre o desenvolvimento desta tecnologia e das medidas de mitigação dos seus efeitos.

Contrariamente à fusão nuclear, a fusão de hidrogénio é uma tecnologia ainda vista como  uma alternativa de futuro. Com efeito, apesar de ser uma fonte totalmente limpa e renovável, a sua implementação ainda constitui um desafio à inteligência humana e ainda não transitou de unidades experimentais para centrais consolidadas.

 

e)     Nexo Energia, Meio Ambiente e Clima

A produção e o consumo de energia têm impacto nos sistemas ambientais e climáticos locais, regionais e globais. Em grande medida, o aquecimento global é produto do uso não sustentável dos combustíveis fósseis à escala global. O desenvolvimento industrial, conseguido na base do uso de combustíveis fósseis, tem um custo muito grande no clima. O contrário também é válido, ou seja, o meio ambiente e o clima têm impacto na produção e no uso de energia. As mudanças climáticas, por exemplo, têm como consequência uma redução na produção de energia hidroeléctrica no Vale do Zambeze, segundo estudos realizados. Também é sabido que a produção energética envolve o uso da água, quer directa, como no caso de centrais hidroeléctricas, quer indirectamente, no caso de centrais térmicas. Por outro lado, o abastecimento e o tratamento da água requerem o uso de energia. Por isso, um entendimento profundo das interdependências destas áreas é essencial, para uma gestão correcta dos recursos. A investigação deverá identificar nexos importantes no sistema energia, meio ambiente e clima em áreas concretas, identificar os problemas e propor medidas de mitigação que contribuam para um desenvolvimento sustentável do país.

 

f)     Energia e Desenvolvimento Sustentável

A geração e o uso de energia estão fortemente ligados a todos os elementos do desenvolvimento sustentável, como o económico, o social e o ambiental. A história do desenvolvimento humano baseia-se na disponibilidade e no uso de energia. Inicialmente, o fogo e a energia animal contribuíram para melhorar substancialmente as vidas das sociedades primitivas até à revolução industrial.

Enquanto o uso de combustíveis fósseis tem impactos negativos no sistema climático, por um lado, há que registar que o uso da biomassa, na sua forma tradicional, por outro, também afecta negativamente a saúde e a qualidade de vida dos consumidores e do ambiente. A utilização de diversas fontes renováveis de energia, incluindo a biomassa de segunda e terceira gerações, continua mal disseminada a nível global, como alternativas de desenvolvimento sustentável. As energias renováveis têm o condão de oferecer uma fonte de energia limpa e flexível para residências, escolas e hospitais, como também para criar empregos em massa.

 

g)    Modelação Energética

A modelação de sistemas energéticos teve início na década de 1970 na sequência do primeiro choque petrolífero. Os diversos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD, na sigla em inglês) verificaram então a necessidade de desenvolver ferramentas para apoio à decisão de políticas energéticas nacionais, de forma a garantir a segurança do abastecimento. Foi assim fundada a Agência Internacional da Energia (AIE) que, desde então, tem vindo a desenvolver ferramentas de modelação prospectiva na área dos sistemas energéticos.

Tanto a AIE como outras entidades privadas e públicas (empresas, o Banco Mundial, universidades e centros de investigação e organismos governamentais) utilizam diversos modelos matemáticos para desenvolverem cenários de evolução de um determinado sistema energético à escala global, para uma dada região, para um país, ou mesmo à escala local, como uma cidade. Estes cenários podem ser de médio (10 a 20 anos) e/ou de longo prazo (50 ou mais anos) e envolvem exercícios complexos, incluindo a cenarização: (i) de variáveis macroeconómicas (evolução do PIB e da estrutura da economia em questão) e demográficas; e (ii) do desenvolvimento tecnológico expectável.

Em Moçambique e em muitos países africanos, existe pouca capacidade de modelação energética, havendo, assim, dependência de organizações estrangeiras. O CPE tem alguns quadros em formação nesta área, a nível de pós-graduação, visando preencher progressivamente esta lacuna.

 

 

 

[1] Carbon Capture and Storage

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